4 anos atrás · Denival Couto · 0 comentários

Procrastinação pelo Medo

Procrastinação pelo Medo. Em qualquer situação de perigo, real ou imaginário, é  mais fácil fugir que enfrentar o medo… E assim, deixamos de lado o que realmente deveríamos fazer.

Parece que algumas pessoas gostam de sofrer

Procrastinação pelo Medo. Algumas vezes em meu consultório, eu tenho a impressão que as pessoas gostam de sofrer!

“Pelo fato de ser tão difícil fazer uma escolha, a escolha padrão é manter sempre o “status quo”

No famoso livro Dom Quixote, Cervantes conta a história de um cavaleiro medieval que andava pelo interior da Espanha caçando monstros.

Entretanto, tais monstros não passavam de moinhos de vento inofensivos e indefesos.

Conosco acontece fatos semelhantes em nosso dia a dia. Porém os monstros, em sua maioria, estão dentro de nós mesmos. Assim, não passam de “moinhos de vento” que transformamos em monstros!

Entretanto, embora exista muita gente com transtornos mentais, talvez possamos dizer que todos eles foram iniciados pelos pequenos monstrinhos que criamos durante a nossa formação. Sejam no passado remoto, no presente e até nas projeções que fazemos para o futuro.

Portanto, poderíamos dizer que a maior especialidade dos humanos é criar inimigos e problemas onde eles não existem! Porém, como não podia ser diferente, quase sempre nos esquecemos de que somos humanos e que, portanto, temos reações humanas que, embora pouco aceitas, são naturais e típicas dos seres humanos.

Assim, são rejeitados comportamentos e maneiras de agir que poderiam ser aceitas como naturais e próprias da espécie humana. Entretanto, não são rejeitados porque queremos ou precisamos, mas por acharmos que a não rejeição nos torna fracos, diferentes do esperado e porque nos importamos se seremos aceitos pelos outros.

Entretanto, se estivéssemos atentos, saberíamos que essas fraquezas específicas dos seres  humanos quando aceitas como reações e comportamentos naturais, tanto pelo próprio individuo como pelos seus pares, teriam efeitos benéficos em nossa saúde.

Procrastinação pelo medo

Certa vez um paciente me disse em consulta que estava muito preocupado com sua família. Pedi que falasse mais sobre o assunto e ele continuou… Então, tivemos o seguinte dialogo:

– Acho que meu filho mais velho, que tem 16 anos, está usando drogas.

– Por que você está com essa desconfiança? Perguntei.

– Ele anda muito arredio, meio estranho… Respondeu.

– Defina estranho…

– Passa o dia inteiro no seu quarto, fala muito pouco, não interage como a família, mas também tem o fato da minha mulher dar muito dinheiro pra ele.

Enquanto ele falava, percebi que seu rosto mostrava uma grande preocupação com o filho.

– Há quanto tempo você desconfia que ele esteja usando drogas?

A naturalidade com que ele me respondeu, foi surpreendente.

– Acho que está próximo de seis meses que venho notando essa mudança no seu comportamento.

– E quando você começou a ficar preocupado com isso?

– No início achei que era só preocupação de pai, porém, faz uns quatro meses que venho perdendo o sono pensando na possibilidade de que ele esteja usando drogas.

A procrastinação pelo medo sempre adia o que não pode esperar?

Nessa altura achei por bem perguntar o que ele estava esperando, para procurar resolver o problema e a resposta dele também foi surpreendente:

– Ainda não decidi sobre o que fazer talvez eu comece tendo uma conversa com minha mulher…

– E por que você ainda não falou com ela? Perguntei

– Não sei! Talvez porque eu tenho esperança que não seja nada e não quero preocupa-la com isso.

Como já estávamos no final da consulta, eu apenas disse pra ele levar o filho em um médico de confiança com o qual ele pudesse conversar antes e alerta-lo sobre sua desconfiança. Assim, o médico poderia pedir exames que poderiam confirmar ou não o uso de drogas pelo seu filho.

Pedi também que ele não preocupasse a sua esposa com essa desconfiança e que deixasse para depois quando tivesse os resultados dos exames.

Na semana seguinte não houve novidades. Duas semanas depois ele apareceu muito feliz e com os resultados dos exames, urina, sangue… Todos negativos para drogas!

O medo de encarar os problemas

Assim, como acabamos de ver, um pai cuidadoso passou seis meses preocupado com o seu filho menor de idade, sem resolver o que fazer ou encarar o problema.

Além disso, ele sequer trouxe o problema para conversarmos na terapia. Além disso, quando descreveu o comportamento de seu filho, descreveu o comportamento normal de um adolescente de 16 anos, mostrando seu total desconhecimento…

Portanto… Era só mais um moinho de vento… que não foi encarado com a devida coragem e quase se transformou em mais um monstro devido a procrastinação pelo medo!

Entretanto, se o seu filho tivesse realmente problemas com drogas, quando ele resolvesse tomar alguma atitude já teria se passado seis meses ou mais e o vicio já teria se agravado ainda mais. Portanto, o que era só um moinho de vento, poderia ter-se transformado em um problema real pelo simples medo que um pai teve de olhar o problema de frente.

Quer saber como a psicoterapia pode ajudar, Leia o artigo: Os benefícios da psicoterapia

 

Denival H Couto – Psicólogo e Terapeuta – Inscrito no Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, sob o No. 06/17.798.

 

 

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