5 anos atrás · Denival Couto · 1 comentário
O coronavírus e a quarentena na formação do TEPT
Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro.
A real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz” – Platão
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio de ansiedade produzido em decorrência de o portador ter sido submetido a situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida pessoas próximas.
Portanto, quando uma experiência traumática produz estresse por trinta dias ou menos, dizemos que o portador apresentou o transtorno de estresse agudo. Porém, quando o estresse dura meses ou até anos, chamamos de transtorno de estresse pós-traumático.
No final algumas dicas para conseguir sair sem traumas dessa guerra contra o coronavírus e a quarentena, que parece nunca vai acabar!
Características e desenvolvimento do (TEPT)
Soldados quando retornam das guerras para o seu país, alguns podem trazer consigo transtornos de ansiedade. Em particular, o que mais acontece é o transtorno de estresse pós-traumático.
Esse transtorno acontece de repente e sem aviso prévio! Entretanto, ele acontece quando tomamos consciência de nossas fraquezas frente as ameaças à nossa segurança . Tanto mais, quando não temos nem controle dos acontecimentos nem como evita-los.
Mesmo assim, não é necessário que essas ameaças se dirijam a nós mesmos, quando dirigidas aos nossos entes queridos o efeito será o mesmo.
Entretanto, estudos psicológicos puderam constatar a contribuição dos acontecimentos ruins, ou apenas as notícias deles, na instalação do TEPT. O resultado são ondas de medo e pavor incontroláveis.
Assim, podemos dizer que o TEPT se inicia no momento da tomada de consciência da total impotência que temos para mudar qualquer coisa naquela situação – ambiente, local ou acontecimentos presentes e futuros.
Certamente, o impacto será tão maior quanto mais claro estiver que você não pode fazer nada e nem mudar aquela situação. Portanto, o poder destruidor depende do quanto está sendo o será inevitável e irreversível.
Além disso, não podemos esquecer que o TEPT é também um grande causador de comorbidades como os transtornos de pânico (TP), transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e da depressão.
Indo para a Guerra
Muitos soldados são convocados para a guerra, mas também, temos os que se apresentam como voluntários. Portanto, é provável que ao chegarem ao campo de batalha eles ainda estejam animados!
Porém, o ânimo começa a mudar no momento em que eles virem a primeira baixa no pelotão. Nesse momento descobrem o perigo real ao qual estão expostos.
Também descobrem a fragilidade da vida, aquele amigo que estava próximo e vivo, não tem mais vida… E com o impacto dessa nova realidade o medo vai surgindo, pelo menos, como o segundo maior inimigo deles.
Além disso, eles descobrem que dali por diante, a distância entre ficar vivo e voltar para casa é a mesma de estar morto no momento seguinte.
Como consequência, surge o agente causador do TEPT tal como foi mostrado acima, trata-se da tomada de consciência da total impotência para mudar, fugir ou evitar aquela situação em que se encontram.
Muitos podem pensar que os traumas de guerra se dão em função do desespero por abater outro ser humano. Porém, os traumas acontecem no momento em que as pessoas descobrem a fragilidade da vida e a sua impotência diante da situação.
Assim, são invadidos pelo medo das consequências horríveis que poderão sofrer, ou até de morrer a qualquer momento.
Inimigos reais ou invisíveis
Nas guerras o inimigo é real. Porém, muitas vezes também invisíveis. O que os soldados percebem, quase sempre, são as rajadas das metralhadoras e dos fuzis, os tiros de grosso calibre que passam próximo deles e os morteiros que explodem próximo fazendo vitimas fatais.
A consciência de que um desses morteiros pode explodir ao seu lado ferindo-o de morte com seus estilhaços, transforma o medo em pavor e muitos deles ficam paralisados.
Porém, para alguns, o pavor, o cansaço, a falta de dormir e a tensão constante são os ingredientes para o “cansaço inconsequente”…
E podem me contestar se quiserem, mas é desse cansaço inconsequente que surgem alguns heróis! Não quero dizer que não existem heróis de verdade, porém, o estresse físico e mental chegando ao limite, o medo de morrer dá lugar ao pavor e aí acontece o “tanto faz”. Mas não sem que antes ele descubra que nada poderá fazer para fugir daquela situação.
Desespero
Então, para que surja o “tanto faz” o desespero, o pavor e o medo, devem ter chegado ao limite entre a razão e a loucura! Superando, inclusive, o medo de morrer.
A aventura de atirar-se a frente do pelotão atacando os inimigos de forma temerária e tendo apenas o inconsciente ditando as técnicas aprendidas nos treinamentos… É puro desespero… É ver nesse ataque a última saída – acabar com o inimigo ou morrer … Como as duas únicas saídas…
Porém, tenham certeza, esse soldado se voltar para casa, mesmo sendo condecorado com medalhas de bravura e honra ao mérito, ouvirá seu medo interno bradando sem cessar que ele poderia estar morto.
Entretanto, nessa altura o TEPT já estará instalado e outras comorbidades estarão a caminho. Sem nenhuma dúvida, ele passa a ser um forte candidato aos transtornos: do pânico, TOC ou depressão. Todos eles de tratamento longo, caro e trabalhoso.
Na guerra contra o coronavírus e a quarentena
Na guerra que estamos travando contra o coronavírus e a quarentena, também estamos experimentando o medo e até o pavor algumas vezes. Tanto pior para aqueles que ficam “ligados” nos canais de noticias e nos noticiários aterrorizantes levados ao ar, em especial, pela mídia televisiva.
Diferente dos soldados valentes, somos iguais àqueles que ficam nas trincheiras. Exceção feita aos que são obrigados a trabalharem ou àqueles que optam e são permitidos exercerem seu trabalho fora de casa, assim como outros que vão atrás do sustento vendendo coisas ou prestando serviços.
Entretanto, estamos cultivando um medo que talvez, para alguns, pode vir a ser pior que o medo que acontece nas guerras reais! Nessa guerra contra o coronavírus e a quarentena, as ameaças não pairam apenas sobre nossas cabeças ou sobre nossos companheiros de luta, mas também sobre todos os nossos entes queridos – avôs, avós, pais, mães, filhos, filhas, netos ou netas. Ninguém está seguro…
Então, escondidos em nossas trincheiras ou nas frentes de batalha, consumimo-nos em nossos medos diante da descoberta da fragilidade da vida, que pode ser tirada por micro organismos. Tão pequenos que são invisíveis até nos microscópios menos poderosos.
Mais ainda, estamos apavorados porque esse micro organismo está sendo descrito pela mídia como capaz de exterminar quase toda a humanidade. Inclusive , escondendo a sete chaves o número dos curados que recebem alta dos hospitais, deixando transparecer que todos que pegam a doença morrem!
Como sairemos dessa guerra contra o coronavírus e a quarentena
Eu acredito que se continuarmos essa paranoia, sairemos dessa guerra em quatro grupos de pessoas:
- Primeiro grupo – Os mortos (de medo, de raiva, por suicídio ou mesmo pelo coronavírus).
- Segundo grupo – Os traumatizados (pelo medo e pelo pavor)
- Terceiro grupo – Os ex-entrincheirados (que sairão apenas meio envergonhados de só terem se escondido enquanto outros “heróis”, trabalhavam para mante-los abastecidos, seguros e tratados, se necessário fosse).
- Quarto grupo – Os heróis que, por força de convocação, necessidade ou vontade própria, ficaram nas linhas de frente e enfrentaram o inimigo. Muito embora alguns ou muitos, quem sabe, passarão para o primeiro grupo. Outros heróis, que pela sua exposição levaram o inimigo para casa e para os seus entes queridos, estes, certamente, poderão entrar para o segundo grupo. Porém, nenhum deles irá para o terceiro grupo.
Portanto, o quarto grupo estará bastante esvaziado…
Que haja Rivotril para todos…
Dicas para sobreviver bem nas trincheiras dessa guerra
- Não caia na armadilha das mídias terroristas;
- Procure não assistir na TV noticiários sobre o coronavírus e a quarentena;
- Melhores suas convicções no seu sistema de crenças:
- Tenha fé nas suas convicções e crenças;
- Coloque os dois pés na realidade e fuja das fantasias;
- Não exija muito de você mesmo;
- Não exija muito dos outros;
- Durma cedo;
- Preocupe-se com o que você pode mudar, fazer, alterar, organizar, etc.;
- Esqueça aquilo que você não pode mudar, fazer, alterar, organizar, etc.;
- Alimente-se de forma correta;
- Use probióticos, mesmo que sejam apenas os leites fermentados na falta de outros mais eficazes;
- Lave as mãos sempre após utilizar o celular, o vaso sanitário, antes das refeições, após sair para colocar o lixo pra fora, etc.;
- Mantenha sua casa limpa, no chão, utilize a mistura de água e água sanitária recomendada nas redes sociais (três colheres de sopa em um litro de água);
- Se tiver que sair de casa, saia tranquilo, não deixe que o medo o apavore.
Dicas para sobreviver bem nas frentes de batalha
- Fique tranquilo e consciente que está fazendo sua parte;
- Evite apertos de mão e abraços;
- Evite aglomerações;
- A qualquer sintoma se isole em casa;
- Só vá ao hospital procurar ajuda se tiver com falta de ar;
- Se tiver idosos ou outro grupo de risco em casa, isole-os, de preferência em casa de outros parentes também pertencentes aos grupos de risco.
Conclusão – coronavírus e a quarentena
Pra terminar, vou contar uma história que conto para alguns dos meus pacientes que apresentam transtornos de ansiedade.
Era uma vez, em um país distante onde apareceu um monstro de 30 metros de altura, boca enorme, que aparecia em local público (rua, praça ou avenida) e engolia instantaneamente uma pessoa. Em seguida, ele desaparecia deixando os sobreviventes apavorados.
Virou noticia em todos os jornais escritos, falados ou televisivos. Uma semana depois todas as mídias só falavam nisso: – “Fique em casa se puder, você pode ser o próximo a perder a vida”.
Quinze dias após da primeira vitima do monstro ser engolida, Todos os que podiam ficavam em casa, o governo mandou fechar o comercio não prioritário e outras atividades menos essenciais.Etc. Etc.
Mas o assunto cansou dois meses depois…
Porém, naquele ano houve tremenda recessão, desemprego em massa, suicídios, violência, assaltos e até o monstro continuou matando uma pessoa por dia!
Então, um ano depois, mesmo que o monstro continuasse a aparecer e devorar uma pessoa por dia, ninguém mais se lembra dele, assim como não se lembram de que os carros matam quase 20 vezes mais que o monstro, todos os dias.
Assim como ninguém mais se lembra das motos que matam muito mais pessoas por dia…
Mas, ninguém fica em casa por causa disso!
Conclusão final: O medo é fabricado pelos interesses de pessoas, grupos, empresas ou políticos e políticas, da forma que mais interessa a cada um deles.
Até nossas mães faziam isso – “Seu pai vai saber o que você fez quando ele chegar”… E acabava com o resto do dia da criança!!!
Leia também:
Denival H. Couto – Psicólogo e Terapeuta
CRP No. 06/17.798 – SP
Tags: coronavírus, guerra, quarentena, TEPT, Transtorno de estresse pós traumático Categorias: Transtornos
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